Arquivo mensal: novembro 2008

Tembiú – Alimento de Alma – O Cantil

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Espetáculo O Cantil convida o espectador, num silêncio sonoro, a se envolver com o enredo da peça, de maneira que ele próprio construa esse enredo mentalmente.

Nenhuma palavra é dita, a não ser na mente do espectador. O trabalho seria árduo, se não houvesse uma história dita pelas ações dos atores – divididos na cena em atores-bonecos e atores-manipuladores. História no corpo, precisamente codificado em seus detalhes. Lá se encontram expressos com primor os elementos da poética de Brecht: o estranhamento, por exemplo, por vezes apresentado em pausas fotográficas, paralisias na ação dos personagens.

Suspense. Repetição.

Se for preciso dar o cabido valor ao espetáculo criado pelo grupo Teatro Máquina, digo que é da ordem do imperdível. Uma obra de arte! Evoé, Teatro Máquina! Vida longa ao cantil!

(Juliana Carvalho, atriz e educadora)

O Cantil surgiu de uma vontade antiga de trabalhar com A Exceção e a Regra, peça escrita por Bertolt Brecht em 1938. Nesse novo projeto, o Teatro Máquina pretende enveredar pelo universo oriental, através do estudo e da experimentação de técnicas de manipulação direta e aparente, investigando as relações possíveis entre ator e manipulador, ação e representação, repetição e descoberta gestual.

No teatro convencional o ator já é um manipulador, porque manipula um corpo que não é seu, mas sim o do personagem. O boneco, portanto, seria uma extensão dessa idéia. Para a manipulação desse boneco é necessária uma atitude distanciada do manipulador em relação a ele, o que naturalmente já se dá no relacionamento com bonecos.

A pesquisa do grupo Teato Máquina pretende descobrir uma disciplina para o trabalho do ator, que propõe ao performer a possibilidade do anular-se, do ceder espaço, de se colocar em segundo plano para que a situação do personagem se revele através do boneco.

Então, perguntamos; “Como seria a relação entre o ator e o boneco? entre o ser e o não ser? entre o corpo imóvel na cena e o objeto?

Confira e confeccione tuas respostas!

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Escrito por Juliana Carvalho no site TEMBIÚ – Alimento de Alma.

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Outros sites falam de O CANTIL:

– VEJA São Paulo

– Guia da Folha

– Guia da Semana

impressões sobre espetáculos – fiac bahia – o cantil

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Não vou falar de todos os espetáculos. As escolhas foram determinadas por critérios de ordem prática, por interesse estético ou simples curiosidade. Deixei de ver Sizwe Banzi Está Morto, texto dos sul-africanos Athol Fugard, John Kani e Wiston Ntshona direção de Peter Brook. De Athol Fugard conhecia Laços de Sangue e Mestre Haroldo. O fato de não ter ido ver uma encenação de Peter Brook é inexplicável, mas não tive vontade.

Corri pra assistir O Cantil, uma adaptação do texto A Exceção e a Regra de Bertolt Brecht realizada pelo Teatro Máquina do Ceará. Direção, dramaturgia e produção de Fran Teixeira. Concisão, poesia e domínio da linguagem cênica marcam o espetáculo cearense. Quatro atores em cena. Dois como bonecos, o Patrão e o Empregado; dois como manipuladores desses homens-bonecos. Perfeição! Por certo exagero meu. A perfeição indica um ponto morto, já que dele não sai mais nada. Não é o que se vê na cena de O Cantil. O domínio técnico está a serviço de uma idéia teatral muito bem resolvida. Certamente, Brecht não cansaria de aplaudir, porque a sua história sobre explorador e explorado explicita-se em cena de tal forma que nem a falta da palavra é sentida, embora no fim do espetáculo eu tenha manifestado a vontade de ouvi-la. Mas depois de refletir sobre o espetáculo, cheguei à certeza de que a palavra transformada em ação bastava. Compreendia-se todo o entrecho da peça adaptada e a relação entre os personagens sem a intromissão do verbo.

No palco aberto e preto, destacam-se os dois personagens vestidos de branco e os dois manipuladores. Dos manipuladores vemos o rosto. Estes são ajudados por dois contra-regras que entram esporadicamente para compor o jogo de cena, retirando alguns objetos ou fazendo aparecer as duas barracas para cena de acampamento. Um carro conduzido pelo Empregado leva sacos também brancos e cestos de vime. A luz é precisa e recorta os personagens em sua viagem. As cenas noturnas são marcadas por um belo e simples céu estrelado. Estabelecida a moldura mergulha-se nessa viagem cujo final já presumimos.

Com esse espetáculo o Teatro Máquina coloca em cena os dados de sua pesquisa artística e revela que a magia do teatro não se dá por truques ilusionistas, visto que constrói a sua cena utilizando-se de conceitos do teatro brechtiano, relendo-os de maneira muito particular, sem a submissão que muitas vezes ocorre quando a leitura das teses do dramaturgo alemão é feita ao pé da letra e de maneira mecânica.

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Escrito por Raimundo Matos de Leão em seu blog.