De quinta a domingo, o Teatro Máquina revisita o espetáculo Ivanov e João Botão, na Caixa Cultural
Há quase dez anos, Levy Mota iniciava suas aulas de licenciatura em teatro no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE, então Cefet) mirando o sonho de ser ator. No palco, Fran Teixeira comandava o Teatro Máquina em sua adaptação de Leonce e Lena, de Georg Büchner. Os olhos do aspirante a artista brilharam. Passada uma década, o agora ator e produtor do Máquina sobe ao palco: ora como Lvov, ora como o Sr. Gravatinha. A partir de amanhã, o grupo, que completa dez anos, apresenta os espetáculos Ivanov e João Botão na Caixa Cultural.
Ao todo, serão quatro apresentações. As três primeiras, de quinta a sábado, levam a desobediente adaptação do texto do russo Anton Tchekhov para o palco às 20 horas. A peça apresenta o drama de Ivanov (Edivaldo Batista), homem de meia idade dividido entre o amor pela esposa doente, Anna (vivida por Ana Luiza Rios), e a paixão pela jovem Sasha (Aline Silva/ Loreta Dialla). A montagem adapta para os dias atuais o texto que se passa na virada do século XIX.
De acordo com Fran Teixeira, diretora do grupo e do espetáculo, Ivanov resulta da pesquisa do Teatro Máquina sobre a construção do gesto dramático. “Existem prolongamentos do tempo. Uma permanência de um gesto como o tapa, por exemplo, pode durar até que ele vire um gesto de afeto”, explica. Segundo Fran, a peça se move de um primeiro ato convencional até um quarto ato imagético, com bastidores e marcações aparentes para o público. Ivanov entrou no repertório do Máquina em 2011.
No domingo, o Máquina mostra João Botão, único trabalho infantil do Máquina, o que prova a versatilidade do repertório do grupo. Assim, o ciclo é fechado. Inspirado em Jim Knopf e Lucas, o maquinista, livro de Michael Ende, o espetáculo se passa na Ilha de Pequeno, minúsculo paraíso com quatro habitantes que se prepara para a chegada de um bebê. O problema é que o espaço não parece ser suficiente para cinco. João Botão virou espetáculo em 2010. A montagem será apresentada às 17 hora.
Fran lamenta não poder fazer temporada na Capital. “Parece estranho, mas é difícil ficar em cartaz em Fortaleza. A programação é sempre mensal: nunca há uma carreira para a cultura”, queixa-se, lembrando um 2013 com mais viagens e festivais do que apresentações em solo cearense. Mas, para quem nunca pensou na longevidade do Teatro Máquina, há pouco espaço para lamento. “O aprendizado com o grupo é muito maior. O teatro, a gente conhece a cada dia”, ensina.